Gilberto Russa – Universo dos Olhares
Gilberto Russa… uma pintura mística
Quando nos encontramos perante a enigmática obra de Gilberto Russa, deparamo-nos com uma expectante decifração!… O crítico de arte Bernardo Pinto de Almeida avança o sentido de uma eventual clarificação: “o artista contempla o mais fundo abismo quando se vê face a face com a mais intensa beleza”. Em Gilberto Russa, como podemos nós encontrar essa intensa beleza? Como chegar a esse entendimento abismal, mas criativo? Talvez aguardar um sinal de partida ou, como um iniciático viajante, rumar com destino ao mais fundo abismo do seu imaginário e intimismo – que pode ser o nosso!… Ocorreu-me fixar como referência para o meu “universo dos olhares” um conjunto indissociável de sete telas, as quais, e à revelia do pintor, baptizei de Septimino – não dei conta do que me esperava. No início da leitura só rememorizava a obra homónima de Ludwig van Beethoven e não encontrava outra razão senão a forte relação entre a música e a pintura. Subitamente o meu aculturamento musical misturou-se com o enigma místico da obra do Gilberto Russa e questionei-me. Porquê 7 telas? Porquê um septimino? Porque teria o pintor exaltado a sua obra em louvor de um número simbólico: “o sete corresponde aos sete dias da semana, aos sete planetas, aos sete graus da perfeição, às sete esferas ou graus celestes, às sete pétalas da rosa, aos sete ramos da árvore”. Ao acrescentar a sua obra septenária ao conjunto e percurso do seu meditativo trabalho, o pintor pode estar a atingir o alvor de uma nova fase, um novo experimentalismo, como se a classificação ptolomaica lhe acertasse em cheio: “eram sete os planetas: Titão (o Sol), Diana (a Lua), Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno; e sete os metais que o representam: ouro, prata, mercúrio, cobre, ferro, estanho e chumbo. Este paralelismo entre os astros e os metais tornou-se extensivo às sete cores do arco-íris”. Gilberto Russa materializa-se em todos estes aspectos – ele é planetário, ele é alquimista, ele é pintor das sete cores do arco-íris e, ao eleger um septimino para o seu trabalho final, pode estar próximo da meta que na simbologia diz que “o sete comporta, no entanto, uma ansiedade pelo facto de indicar a passagem do conhecido para o desconhecido: um ciclo encerrou-se, qual será o seguinte?”. Porquê uma obra septenária? “…alguns septenários são símbolos de outros septenários: assim, a rosa das sete pétalas evocaria os sete céus, as sete hierarquias angélicas, todos os conjuntos perfeitos. Sete designa a totalidade das ordens planetárias e angélicas, a totalidade das moradas celestes, a totalidade das energias e principalmente da ordem espiritual”.3 Fiquei então face a face com esta intensa beleza… uma pintura mística (talvez votiva), e, por que não, um septenário homónimo do septimino de Beethoven? Por que admito no trabalho de Gilberto Russa um acto de fé com sentimento votivo? Porque o entendo como uma interpretação dum universo cósmico e celebrante de crenças. Desde a pré-história que o homem deixa sinais dessas virtualidades, dessas crenças: as covinhas nos altares de granito, as estelas funerárias, as espirais, os astros. Também na epístola de S. Tiago podemos ler “que aproveita, irmãos, que alguém diga que tem fé, se não tiver obra de fé?”. A fé de Gilberto Russa não obedece à sintonia dos conceitos de santidade ou obsessão de um qualquer dogma espiritual. A sua fé é a sua crença na pintura que executa. Obra que palmilha de ocaso em ocaso, de boreais em boreais, de raízes em raízes, de luas em luas, de espirais em espirais, de esferas em esferas, ou ainda naquele pungente registo (estela funerária) que exprime no seu quadro interpretativo sobre o naufrágio de 1947. Partículas cósmicas dum universo que, podendo não ser perceptível ao leitor menos atento, ele é o seu habitat espacial de preferência. Preferencialmente, o pintor segura também o estatuto de autodidacta e esta condição (espécie de libertinagem) solta-o de conceitos estéticos espartilhados em tabelas de medições de ismos – talvez mesmo os misture a todos numa clara provocação da sua liberdade afirmativa. Como autodidacta, cruza abordagem atrás de abordagem, deixando que tomemos consciência de que a linguagem pictórica que exprime se mostre desarrumada de uma qualquer ordem racional e escolar. Assim sendo, o seu trabalho resulta de esvaziamentos de tensões emocionais: “não sendo o mundo lugar de perfeição, de composição, de arrumo, sendo ele vário e incerto aos nossos olhos, não pode deixar de ser motor de sempre de toda a arte”. Este conceito do crítico de arte Bernardo Pinto de Almeida levanta uma pista e pode permitir a decifração da obra de Gilberto Russa. Quadro a quadro, a obra mostra-se com uma carga mística (uma linguagem quase votiva), iluminada por um lampadário que ofusca de luminosidade a lembrar um poema de Teixeira de Pascoais do livro Marânus: “também o claro sol, por um instante/ numa gota de orvalho se resume:/ e, nela, é viva imagem radiante/ de viva luz, acesa em sete cores”.
A. Cunha e Silva in Gilberto Russa – Universo dos Olhares
Esgotado
25 x 20 cm / edição de 2007
Autor
A. Cunha e Silva
Albano Chaves
António Mendes
- 1989: Individual – Hotel Meridien / Porto.
- Individual – Hotel Solverde / Granja.
- Individual – Junta de Freguesia de Leça da Palmeira.
- 1993: Colectiva – 1° Congresso do Fórum Matosinhense Pintores do Concelho.
- 1995: Colectiva – Lions de Matosinhos / Orfeão de Matosinhos.
- 1996: Entrevista e mostra de trabalhos, no programa de televisão "Praça da Alegria" / RTP–Porto.
- 1997: Exposição Colectiva na Junta de Freguesia de S. Mamede de Infesta.
- 2003: Exposição Colectiva incluída nas Festas de Matosinhos, na Associação dos Antigos Alunos das Escolas da Confraria de Matosinhos.
- 2009/Set.: Exposição na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, Matosinhos.
- Representado em colecções particulares.
- Colecção sobre Leça da Palmeira e Matosinhos (actividades e locais antigos e actuais, a óleo, aguarela, desenho e sanguínea).
- Colecção de retratos a sanguínea e lápis de carvão.
- Colecção de caricaturas a tintadachina.
- Colecção Os meus Bonecos, a tintadachina, sobre profissões, algumas em desuso, iniciada em 1985, (cerca de 60 figuras: peixeira, pescador, leiteira, gravateiro, ferrador, etc.).
- Colecção Tábuas da Fragilidade Humana, a tintadachina (sentimentos como o amor, a alegria, a amizade..., ilustrando poemas próprios).
- Colecção Cidade Moderna, a óleo, aguarela e desenho (vivência do homem na cidade, o seu bemestar e a solidão).
- Colecção "QUATTROCENTO", pesquisa sobre a pintura renascentista, trabalhos a óleo, aguarelas e desenhos a tintadachina, e carvão e sanguínea.
- Leça – Espelho de Memória e Luz – Pinturas de António Mendes, texto de A. Cunha e Silva, Nov. 2006, edium editores.
- Óscar da Silva – Sonata Saudade – A Viagem, de A. Cunha e Silva. Colaboração com desenhos, aguarela e óleo.
- A Árvore dos Sonhos – livro infantil com texto de Isilda Rato e ilustração e aguarelas de António Mendes, edium editores.
- José da Silva Passos – O Espelho Translúcido, de Drª Maria Elvira Castanheira, publicado pela edium editores. Colaboração de António Mendes no retrato de José da Silva Passos (carvão/sanguínea).
- Boletim do NAPESMAT – Colaboração com A. Cunha e Silva.
- Jornal "Matosinhos Hoje" – Suplemento 'Arte e Cultura' – Direcção de A. Cunha e Silva – colaboração com desenhos e aguarelas.
- Naufrágio de 1947 – Toda a Saudade é um Cais de Pedra, de Belmiro Esteves Galego e A. Cunha e Silva – colaboração com desenhos e aguarelas.
- Ilustração do romance de ficção histórica O Pequeno Guerreiro de Gilberto Russa e Albano Chaves (a publicar).
- Setembro – Conferência Os Meus Bonecos, na Junta de Freguesia de Leça da Palmeira, com poesia sua.
- Matosinhos e a Pesca – A Pintura de António Mendes.
- As Tábuas de Fragilidade Humana, (poemas e desenhos).
- As Caricaturas Possíveis do Séc. XX – Personalidades Mundiais (cerca de 120 bonecos, neste momento).
- Leceiros e Matosinhenses em Caricatura (personalidades de várias épocas).
- Monografias sobre Colecções do meu Labor.
- Os meus Bonecos – recolha das profissões em desuso com desenho adaptado.
- O Desenho de Leça da Palmeira através do Traço de António Mendes.
- Viagem no Tempo Leceiro sobre as Pessoas, Sítios e Locais, Casas e Curiosidades.
- 2008: Diploma Mérito e Reconhecimento atribuído pelo Fórum Matosinhos pelo conjunto da sua obra.
- Em Setembro de 2009, foi inaugurada uma exposição de pinturas suas na Biblioteca Municipal Florbela Espanca, Matosinhos.
Gilberto Russa
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