Contos das duas e dez da madrugada
Em alguma literatura de feição romântica existe quase sempre um momento aziago, uma hora precisa em que, por conspiração dos deuses, uma grande desgraça se abate sobre os personagens que a vão pressagiando, até que a narrativa atinge o seu clímax. No presente livro de contos, essa hora fatídica está desde logo marcada no título: 2:10. MARGARIDA ILDEFONSO, deste modo, dá o mote que aglutina as várias estórias que se relacionam com o sobrenatural, com o oculto, com o desconhecido, com o medo e com a busca incessante de uma vida extra-sensorial em que parece acreditar como quem demonstra um puro facto lógico universal. Um exemplar de não fácil arrumação, mas que oscilaria entre a literatura policial e algo próximo da construção fantástica de EDGAR ALLAN POE. (…) Não se fica indiferente à escrita da MARGARIDA ILDEFONSO. (…) O seu tom vivo, directo, quase sem rodeios (a memória voou para passagens das crónicas de FERNÃO LOPES, que inscreveu na História os “patas ao léu” e “os ventres ao sol”), apresenta-nos uma “escritora em estado puro”, ou o mais próximo possível dele, pois desconfio sempre de uma pureza asséptica.