A musicalidade da pintura
Esvoaçam no horizonte os corpos das liberdades consentidas. Vejo-os desde criança!
Pesam temporais e cortinas de nuvens que filtram náufragos arribados à praia, é o retorno as origens, o pagamento do dízimo da vida. Vejo-os desde criança!
Olho os meus mares — o da bonança e o da tempestade, e vejo-os desde criança para além do que vejo!
A. Cunha e Silva
Quando vi os trabalhos de António Cunha e Silva, lembrei-me do poema de René Char:
Dans nos ténèbres, il n’y pas un place pour la Beauté. Tout la place est pour la Beuaté.
(…)
A mão, esse instrumento fabuloso, foi guiada por um ritmo e uma vibração secretamente espontâneos.
MANUEL DIAS DA FONSECA
Em Cunha e Silva as referências narrativas ou os temas são abordados com a mesma definição qualitativa como se tratados do ponto de vista da composição musical. Embora se percecione o tema através de uma figuração principal existe um entorna de cor em mancha abstrata ou de figuração fugidia que lhe amplia a poética em diálogos pictóricos abstratos, proporcionando que o tema saltite de uns para outros e se discuta numa promessa de resultantes que o pintor vai sempre adiando de obra para obra. No entanto, a singularidade de cada pintura vai adensando-se e tentando cumprir-se num corpus que se perceciona já em cada uma.
DORA IVA RITA
A musicalidade da obra plástica de Cunha e Silva é a forma de ele próprio encontrar a sua sublimação.
ALFREDO BARROS
Os desenhos de Cunha e Silva não comportam evidências, embora as suscitem: muito mais importante do que a técnica, cresce diante de nós o gesto, absorvido por um ritmo e vibração que lhe vieram da música, da sua perícia e virtuosismo enquanto violinista. A mão na sua inevitável vertigem, partiu à descoberta da linha, da mancha, abrindo-as a sentidos tão plurais que será impossível querê-la ao serviço da representação pela representação, do sonho pelo sonho, do gesto pelo gesto.
SÉRGIO REIS
Cunha e Silva é um artista que traz até nóS a marca do mar à beira do qual nasceu e a marca dessa outra arte que também é sua — a Música.
HELENA MEIRELLES
(Na obra plástica de A. Cunha e Silva) o traço é também ondulante, movente, como obedecendo a ventos interiores — muito mais sugestão e movimento do que forma definida e estática.
Vibração, movimento e luminosidade são a chave para estes jardins de imaginação e memória
dos quais a fidelidade de um animal se fez guardiã.
LUÍSA DACOSTA