Romeiros
Naquele lugar, no seu quarto de janelas viradas para a rua, estavam mais habituados a ouvir passos de pessoas e movimento de animais, de madrugada. Gente que seguia para os seus trabalhos. Sem condições para adormecer, foram ouvindo os romeiros que regressavam a suas casas; uns metiam pela estrada de terra batida que dava para Perafita e, outros, seguiam em frente, em direção a Santa Cruz do Bispo. No dia seguinte era domingo, e os romeiros podiam descansar. Maria Adelina e Manuel entraram no sono, sonhando nos tempos idos, mas apreciando que a tradição dos romeiros ao Senhor de Matosinhos estava garantida… ao longe, o som da viola ia desaparecendo, e os cantares mal se ouviam!
Noite dentro, o luar começou a iluminar uma estampa muito bonita, a cores, que estava pendura na parede do quarto. Tinha sido o padre da Igreja de S. Martinho de Aldoar que a tinha oferecido, no dia em que se despediram dele e vieram viver para Gonçalves. Na legenda dizia; “homem e mulher dos arrabaldes do Porto, vindo da romaria do Senhor de Matosinhos”. Eram eles! Se ninguém lhe mexeu…ainda lá deve estar!
Maria Adelina Azevedo e Manuel Alves da Silva, nasceram em 1870, e morreram no mesmo ano em 1935. Ambos ficaram sepultados em jazigo de família no cemitério de Santa Cruz do Bispo. O jardineiro da casa comprou a propriedade e manteve o negócio do horto, o “roseiral dos romeiros” em memória dos seus patrões. Já se passou mais de um século após a sua morte e, agora, já ninguém sabe dizer mais nada.
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ed. Julho 2023
Autor
A. Cunha e Silva
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