A arte do nada. O lastimoso destino dos besugos.
“Há pouco, pouco tempo, num reino não muito distante, a meio caminho entre o nada e o nenhures, havia um povo que respondia (quando calhava) pelo nome de Besugos…”
Assim se inicia a nada gloriosa gesta dos Besugos, um poVinho sem igual. Pelo menos, na falta de higiene e de modos ou na trafulhice – na besuguice, em suma – ninguém era capaz de igualá-los.
À sua simples passagem, todos os vizinhos se curvavam ou mantinham uma cautelosa distância. Não por deferência ou por qualquer sinal de respeito, mas porque o odor fétido que exalavam (uma mistura de refogado, meias encardidas e suor) era capaz de devolver à vida até a múmia mais mortiça.
Chefiados por La Fava, o insuperável “Mais Grande” Líder, passavam os dias a emborcar litradas de vinho zurrapa na tasca mais próxima e a discutir os últimos resultados do Recreativo das Barracas, a agremiação desportivo-criminal de que eram fanáticos, quando a sorte (e o árbitro) sorria em seu favor.
O que seria do Mundo sem os Besugos? Um lugar melhor, sem dúvida.
Com Ilustrações de Inês Viegas.